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terça-feira, 24 de junho de 2014

Compulsão alimentar

(Disclaimer: este texto é um repost de um publicado há uns tempos no meu blogue anterior. Neste caso, aquilo que escrevi na altura já não se aplica, mas o texto contém algumas informações importantes sobre a compulsão alimentar, assim como direcciona para um site onde poderão ler mais sobre o assunto. Além disso, faz sentido publicar este texto agora porque, ainda esta semana, quero escrever sobre a parte psicológica da alimentação e a ligação emocional que, sem nos apercebermos, criamos com a comida e muitas vezes nos impede de darmos o passo em frente para termos uma vida mais saudável). Aqui fica então o texto, tal e qual o escrevi, já há mais de um ano (8 de Maio de 2013) e que, apesar de já não ser totalmente actual, conta mais um bocadinho da minha história pessoal e alimentar, além daquilo que podem ler aqui:

Já falei aqui do meu excesso de peso, já falei das minhas dietas, mas nunca abordei o assuntos dos problemas do comportamento alimentar. E, sendo eu psicóloga, e interessando-me por este assunto há já algum tempo, tenho um conhecimento superior ao da maioria das pessoas.

       Mas, primeiro, e para que se perceba o porquê de eu abordar este assunto no blogue, convém contar um bocadinho da minha história. Sempre fui gordinha. Não nasci gorda, não fui gorda até aos 5/6 anos, mas a partir daí comecei a engordar. Muito fruto de uma alimentação pouco regrada e equilibrada que se fazia cá em casa, e que me foi criando hábitos alimantares pouco saudáveis, com os quais fui engordando.

          E, à medida que ia engordando, ia ganhando complexos, por ser gordinha. E isso afectou muitas áreas da minha vida; sempre achei que ninguém se ia interessar por mim por ser gorda, e sempre arranjei desculpas para afastar todas as pessoas que, de facto, se aproximavam. Acredito mesmo que, a partir de uma altura, deixei-me engordar mais por não querer e não saber lidar com o sexo oposto. Nunca tive, e continuo a não ter, em casa, por parte do meu pai, um modelo masculino que gostasse de mim como eu era e me ajudasse a aceitar, a gostar de mim, e a sentir que tenho o direito de ser feliz no meu corpo, de lutar por o tornar mais bonito.

      Fiz a minha primeira dieta a sério quando tinha 17 anos. Já tinha tentado emagrecer antes, a minha mãe já me tinha levado a um ou dois endrocrinologistas, para se certificar que eu não tinha nenhum problema gladular que me fizesse engordar, mas eu nunca tinha levado essas tentativas a sério. Por isso, considero que a minha primeira dieta foi aos 17 anos. Não fui a nenhum médico. Simplesmente recorri ao meu bom senso, deixei de comer pão, arroz, batatas, massa, doces, passei a comer iogurtes magros, fruta, cereais, e carne e peixe com legumes. Lembro-me que emagreci 9 kgs. num mês. Tinha 17 anos, nunca tinha feito dieta, a coisa resultou. Tenho fotografias dessa época, e, quando olho, gosto do que vejo. Não estava magra, estava cheinha, mas estava elegante.

      Não me lembro quando tempo me mantive assim, mais magra, mas sei que o que me aconteceu depois, é o que me acontece sempre. Faço dieta certinha, sou estóica, resisto, e resisto, e resisto. Mas, quando faço uma asneira, não consigo fazer só uma asneira. Perco-me. E depois custa-me muito a retomar. Até porque, tal como tenho facilidade em emagrecer, também tenho facilidade em engordar. E sou capaz de engordar 2/3 kgs. em menos de uma semana. Sei que não são "quilos reais", sei que são em grande parte retenção de líquidos frutos das aneiras, e sei que os perco rapidamente, mas são motivo para que eu desmotive e me deixe ir.

        Nos últimos anos, perdi muito peso. Já podia estar bem. Mas o que me aconteceu foi que perdi, e voltei a ganhar, perdi e voltei a ganhar, perdi e voltei a ganhar. Foi por isso que hoje resolvi falar aqui no blogue de compulsão alimentar. Podia não falar, podia não expôr esta parte de mim, podia optar por não mostrar esta minha fragilidade. Logo eu, que tenho tanto dificuldade em lidar com as minhas falhas, que, no fundo, queria ser perfeita e não lido bem com os meus erros. Mas optei por falar - acho que pode ajudar alguém, e certamente, pode-me ajudar a mim. Assumir os nossos problemas é sempre uma forma de os enfrentar. E eu, que perdi tanto peso nos últimos meses, que gastei tanto dinheiro comigo, que me portei tão bem, sinto que estou, novamente, a começar a falhar, a começar a perder-me. Mas, desta vez, não vou deixar que isso aconteça. Desta vez vou ser capaz de emagrecer ainda mais, de, finalmente, ficar bem comigo.


      Até porque esta questão influencia toda a minha vida. Torna-me mais insegura, interfere com a minha felicidade, influencia a forma como me vejo e olho para mim. E, neste momento, felizmente, eu tenho ao meu lado uma pessoa que fez o que o meu pai não fez ao longo da vida - ensinou-me a gostar de mim como sou, e mostrou-me que tenho o direito de querer lutar por mim e ser feliz com o meu corpo. Uma pessoa que todos os dias faz subir a minha auto-estima, e me diz que eu sou bonita, mesmo quando eu me acho o bicho mais feio à face da terra.

     Chamei a este texto "Compulsão alimentar", e ainda nem sequer falei nisso. Mas, tudo aquilo em que falei, de alguma forma caracteriza a compulsão alimentar. Eu não acho que tenha a perturbação, pura e dura. Acho, sim, que tenho, no meu comportamento, algumas das características da perturbação. E, sobretudo, acho que quem tem excesso de peso tem, sempre, uma relação pouco saudável com a comida. Porque, quem tem uma relação saudável, sabe e pode fazer asneiras, de vez em quando, sem que essas asneiras façam engordar, ou controlem a vida.

         Então, mas, afinal, o que é a compulsão alimentar?

     "A compulsão alimentar é um transtorno alimentar comum, em que um indivíduo consome regularmente uma grande quantidade de comida de uma vez só, ou «depenica» constantemente, mesmo quando não tem fome ou se sente fisicamente desconfortável por comer tanto. Ao contrário dos bulímicos, quem come compulsivamente não purga depois de comer em excesso, nem pratica com frequência exercício em excesso na tentativa de queimar calorias. A compulsão alimentar pode ocorrer em pessoas de qualquer sexo, raça, idade ou estrato socioeconómico e, como quem sofre do transtorno de compulsão alimentar aumenta com frequência de peso ou se torna clinicamente obeso, torna-se passível de contrair uma grande variedade de doenças. Infelizmente, não há uma cura reconhecida para o transtorno de ingestão compulsiva, mas existe uma variedade de opções de tratamento que podem ser exploradas quando o transtorno é diagnosticado.Quem sofre do transtorno de compulsão alimentar consome grandes quantidades de comida de uma só vez ou come constantemente durante um determinado período (por exemplo, durante uma festa de aniversário ou na Consoada) mas não purga ou se liberta da comida depois. O transtorno de compulsão alimentar é habitualmente reconhecido por outros devido aos hábitos alimentares de um indivíduo, tais como:



2 comentários:

  1. Meu deus então eu acho que estou dentro dessa compulsão acontece que eu tenho muito esses ataques de vontade em devorar tudo e logo a seguir sinto-me horrível até chego a chorar sozinha;)
    Infelizmente não consigo controlar este meu vicio maldico e nem sei que fazer :(
    Desculpe o meu desabafo.

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  2. Excelente texto, Teresa.
    Eu sempre fui pesada, gradona, mas nunca tive um distúrbio alimentar- Tenho 2 amigas que o tiveram (e na minha opinião, continuam a tê-lo) mas já desisti de lhes enviar artigos ou dar dicas porque ignoram completamente e nem um "obrigada" têm, ou sequer lêem o que envio.
    Este era o texto ideal para elas mas como sei que vão ignorar como todos os outros, já desisti.

    Parabéns!

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